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Opinião: A depreciação do Carnaval e o choro de barriga cheia de quem deveria apoiar

Escolas de samba vão muito além de um movimento de resistência cultural. Carnaval também é época de colheita.

Desfiles na Marquês de Sapucaí. Foto: Rodrigo Trindade
Desfiles na Marquês de Sapucaí. Foto: Rodrigo Trindade

As escolas de samba do Rio de Janeiro já estão acostumadas a enfrentar intempéries como, por exemplo, a verba curta ou insuficiente para desenvolver seus desfiles, entre outros problemas pontuais, mas que até então sempre eram resolvidos com muita criatividade.


Materiais caros e mão de obra à mesma altura, além da necessidade de fazer o espetáculo crescer em tamanho e qualidade oneraram o custo final. Cada escola costuma buscar apoio e/ou patrocínio à sua moda. Quem consegue mais apoios, sai na frente. Quem tem patronos, desfila melhor. Mas nem todas têm tais benefícios.

Bolo redondo e cada um com sua parte na festa

Imagine um bolo redondo de chocolate, dividido em algumas fatias, estas vistas de cima. Metaforicamente, o bolo refere-se ao custo total das apresentações. Imagine que cada fatia represente a participação, em dinheiro, de alguma empresa ou instituição que investe nos desfiles das escolas de samba.


Há, por exemplo, banco, empresa cervejeira e de refrigerante e a patrona mor, que é a emissora oficial que transmite a festa; além de outros participantes menores, que também valorizam a cultura e sabem de sua importância. Inclusive, saberão colher os bons frutos no momento certo.


Além de participações privadas, o poder público também tem sua fatia no bolo (e não faz mais do que sua obrigação). A Prefeitura do Rio de Janeiro, por exemplo, tinha uma participação valiosa, até então. Na "Era Eduardo Paes", cada agremiação do Grupo Especial contava com valores entre um e dois milhões de reais de subvenção; na Série A, o valor era em torno de 500 mil. Variava de acordo com o ano. Se havia dinheiro para investir, o ex-prefeito sempre dava uma ajudinha a mais. Porém, não havia corte pela metade. O trocado era certo.


Fato é que, ainda assim, as agremiações sempre se viraram para fechar a conta: tira daqui, põe dali, junta de um e de outro e, como diz o velho e já batido ditado, "de grão em grão a galinha enche o papo". Mas neste ano de 2019, a situação ficou muito feia. Sobretudo para as escolas da Série A. No Especial, houve corte de verba pela metade e cada uma teria recebido apenas R$ 500 mil; na Série A, R$ 250 mil. Há quem diga que houve, no ar, uma imensa saudade do ex-prefeito e sambista portelense Eduardo Paes.


Por questões políticas, uma empresa de aplicativo de transporte resolveu sair da cota de patrocínio, o que representou um chute no estômago e o agravamento da crise. Quem conseguiu minimizar a situação foi o governador Wilson Witzel, que viabilizou através da Light, empresa de energia da capital, patrocínio que ajudou (bem em cima da hora) cada uma das escolas com pouco mais de R$ 1 milhão - ainda assim, apenas para o Grupo Especial.

Do cão

Enquanto alguns demonizam a folia de Momo e dizem que a festa só serve para disseminar violência, dados revelam o quanto o Carnaval do Rio de Janeiro move a economia. Isso inclui, por exemplo, as apresentações na Marquês de Sapucaí e os eventos de rua.


A Riotur divulgou recentemente um balanço: a receita gerada foi de R$ 3 bilhões e 780 milhões e isso representa mais consumo, mais geração de renda, serviços e empregos em vários segmentos: da costura até a hotelaria. Sem contar os trabalhadores informais, do vendedor de latinha de refrigerante e salsicha de espeto ao catador de lixo reciclável. É óbvio que parte desse dinheiro retornará aos cofres públicos, principalmente em forma de impostos. Quer outro dado positivo? O número de visitantes também foi alto: 1 milhão e 620 mil turistas.

Época de colheita! De impostos, e ainda gerar renda e felicidade para as pessoas

É fato que, além de gerar emprego e renda e servir como movimento de resistência cultural, as escolas de samba divulgam suas cidades de origem mundo afora. O Carnaval, em sua totalidade, vai além: o que é investido volta em forma de impostos, entretenimento para deixar as pessoas mais felizes, trabalho e renda, e muito mais. É errôneo e retrógrado um governo contemporâneo pensar o contrário.


Outra: o trabalho de um ano inteiro de costureiros, aderecistas, escultores, desenhistas, engenheiros, bombeiros civis, eletricistas, pintores, porteiros, recepcionistas, maquiadores, vigias, faxineiros, cabeleireiros, carnavalescos, bailarinos, dançarinos, administradores, contadores, e de tantas outras profissões e agentes humanos envolvidos com o Carnaval deve ser respeitado. Inclui-se, aí, profissionais de imprensa que levam a informação em textos, fotos e vídeos mundo afora.


Agora, uma pergunta que jamais se calará: os anos 2018 e 2019 foram um martírio para as escolas de samba. O que acontecerá em 2020? Será, mais uma vez, um vergonhoso "salve-se quem puder"? Vamos aguardar.

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