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Saiba as diferenças entre redação jornalística e texto acadêmico

Atualizado: 1 de mai.

Conheça a função de cada um e não caia no erro quando for fazer concurso, por exemplo.

Narrativa jornalística versus dissertação acadêmica. Conheça as diferenças. Imagens: Canva. Arte: Portal WTB News
Texto jornalístico versus dissertação acadêmica. Conheça as diferenças. Imagens: Canva. Arte: Portal WTB News

Sou jornalista e tenho percebido o quanto alguns profissionais da comunicação social têm tido dificuldades de sair da estrutura textual jornalística quando elaboram outros gêneros textuais, tais quais os acadêmicos. Vou dar um exemplo: uma vez, ainda na faculdade de Letras, levei um puxão de orelha de uma professora por iniciar uma dissertação acadêmica com direito a lide, sublide, corpo e pé. Ela quase me defenestrou pela janela, quarto andar afora. Mas calma! Isso é muito natural para nós, que vivemos diariamente no meio dessa sopa de letrinhas "a la" pirâmide invertida, que é a narrativa do jornalismo. Não é a morte!

- Jornalista tem que saber diferenciar e praticar as duas formas

Porém, será a morte o jornalista que não souber diferenciar os dois tipos de gênero: o acadêmico e o jornalístico. Até mesmo para quem deseja fazer mestrado ou doutorado. Ou concursos na área ou fora dela.


Tenho recebido emails de colegas comunicólogos com muitas dúvidas a esse respeito: como pode um jornalista não ser classificado em uma etapa de seleção de emprego por não ter ido bem na redação, que não era de viés noticioso e apenas pedia para que o candidato dissertasse sobre o tema "desemprego"? Há um caso, ainda, sobre uma dissertação de mestrado tal qual um profissional amigo meu estava com bastantes dificuldades em sair da estrutura textual jornalística. Ajudei a revisar e compartilhei o que aprendi. Já passei por tais experiências e também compartilho com você como sair desse labirinto.

- QUEM É QUEM

O texto noticioso tem suas singularidades. Tem viés informativo e na maioria das vezes suas palavras são "manchetadas", inclusive o título, em sua maioria usando a estrutura sujeito+verbo+predicado, ou seja, para dar impacto, de forma que atraia o leitor para a notícia.


Por outro lado, um texto acadêmico, como por exemplo uma redação para um concurso público, monografia, tese de mestrado, doutorado ou para o Enem, não tem viés noticioso: é dissertativo e segue uma outra estrutura normativa. Vejamos a seguir outras características e diferenças entre a redação jornalística e a redação acadêmica.

- VAMOS RELEMBRAR O VIÉS DO TEXTO NOTICIOSO? Como é estruturado o texto jornalístico

O jornalismo faz parte do dia a dia de uma sociedade. Nos grandes centros urbanos, por exemplo, ele exerce, sobre as pessoas, a função de mantê-las bem informadas. Na correria das ruas, pelas bancas de jornal ou via satélite, assuntos como economia, saúde, lazer, trânsito, política, violência, arte e cultura, cidades, turismo, entre outros, são pautados e levados diariamente às telas da televisão, às páginas dos jornais, às ondas de rádio e, principalmente, aos sites noticiosos.


Cada uma dessas mídias tem uma singularidade: o rádio, considerado o meio mais fugaz, leva este rótulo por consequente rapidez do que é noticiado. Por não conter imagens, tem como um dos objetivos ambientar o ouvinte acerca do fato que está sendo exposto. Caso contrário, a notícia estará incompleta ou o espectador não a entenderá de forma correta, estabelecendo o que é chamado, no jornalismo, de ruídos de comunicação.


As mídias impressas, por terem limitação de espaço, levam as notícias de forma condensada. Os caracteres limitam o texto noticioso, com a centimetragem (limites que ditam a quantidade de caracteres na hora da diagramação). Jornais e revistas, porém, têm uma vantagem sobre o rádio: levam imagens – fotografias, infográficos, etc.


A televisão, até o seu surgimento, era considerada o meio mais completo de informar: imagens e som dariam a ela o rótulo de “caixinha mágica”. No telejornalismo, as reportagens ficaram, desde então, mais completas, atraentes e ainda mais eficazes, do ponto de vista da persuasão.


Foi na internet, porém, que todos os meios acima se juntaram, formando uma grande convergência de mídia, favorecendo, entre outros gêneros textuais, o aparecimento de novos veículos jornalísticos, como por exemplo, os portais de notícia e blogs noticiosos. Todos estes apresentam texto, fotos e vídeos, o que antes não era possível a um único meio.


Quanto à estrutura noticiosa, todas essas mídias possuem as mesmas características. Todas elas seguem o seguinte parâmetro na hora de noticiar: lide, sublide, corpo e pé. O lide responderá as perguntas “Quem?”, “Fez o quê?”, “Onde?”, “Como?”, “Quando?” e “Por quê?”. O sublide, por sua vez, contará o desenrolar do fato.


No corpo da notícia, haverá outras informações necessárias para a compreensão dos fatos por parte do leitor. Já o pé da notícia, geralmente agrega uma informação não muito relevante e, que por ordem de importância, acabou por finalizar o texto noticioso.

Crédito da imagem: Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec)
Crédito da imagem: Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec)

Toda essa engrenagem noticiosa não se dá aleatoriamente: segue-se um preceito norte-americano de informar, através da chamada “Pirâmide Invertida”, que nada mais é do que informar o mais importante no início do texto e deixar para o final o que menos importa.


Para entender melhor o que é uma “Pirâmide Invertida”, faz-se necessário visualizar a imagem a seguir, que exemplifica de forma bastante clara o papel deste recurso dentro de um texto noticioso.

- O TEXTO ACADÊMICO É DIFERENTE MINHA GENTE! Como é estruturado um texto acadêmico: estrutura e singularidades

O texto acadêmico, por sua vez, não tem necessária obrigação de informar. Menos ainda, comprimir palavras para economizar espaço. A função inicial aqui é defender uma teoria, uma tese, uma ideia. Jargões jornalísticos, método da "Pirâmide Invertida" e outras ferramentas típicas de uma notícia levarão quem escreve ao insucesso. Acompanhe, agora, as principais características de uma redação acadêmica:


I) Quanto aos conceitos básicos para redigir:


1) Tema: assunto a ser pautado na redação, como por exemplo, fome, economia, preconceito, educação, violência doméstica, entre outros.


2) Tese: argumentos usados pelo autor para defender o tema proposto. Neste momento, o redator levanta ideias novas para defender o tema e, ainda, estabelece, com parcimônia, seu ponto de vista acerca do assunto.


3) Ideias: são os conceitos usados pelo autor para discutir o tema. As ideias são, dentro do argumento, dados e conceitos a serem usados para reforçar a redação e demonstrar que o redator tem, na prática, algum conhecimento acerca do assunto pautado.


4) Vocabulário adequado: diferente do texto noticioso, em que, em determinados momentos, são aceitos usos de palavras coloquiais, dependendo do assunto ou do gênero jornalístico (por exemplo, um editorial, um artigo opinativo, uma charge), o texto acadêmico exige o emprego da norma culta.


5) Coesão e coerência: texto coeso e coerente é regra para quaisquer tipos de redação, seja com viés noticioso ou não. Nas redações acadêmicas, porém, são itens indispensáveis e quaisquer deslizes podem gerar, por exemplo, eliminação de um concurso (como no Exame Nacional do Ensino Médio – Enem), e reprovação escolar (no âmbito da sala de aula). Entende-se por coesão a interligação perfeita entre as ideias dos parágrafos; por coerência, podemos afirmar que seu conceito estabelece o nexo, a dissertação dentro do assunto estabelecido, sem a fuga para outros elementos que não pertencem àquela temática.


6) Estrutura e estética: itens igualmente importantes dentro de uma redação acadêmica. A estrutura conceitua o equilíbrio dentro dos parágrafos, por exemplo, que devem estar simetricamente interligados. A estética, por sua vez, engloba a aparência textual (incluindo a boa caligrafia); o uso de palavras evitando repetições; os inconvenientes cacófatos (sons desagradáveis quando duas palavras se unem, como por exemplo, "eu amo ela", "vou-me já", "a boca dela", etc); e, ainda, as palavras a serem usadas, de forma correta, de acordo com o contexto, evitando sempre as de baixo calão.


II) Quanto à estrutura básica de uma redação acadêmica:


1) Título: item importante dentro de uma redação. Estabelecido o assunto a ser dissertado, o redator deverá criar um título adequado, antecedendo o primeiro parágrafo de seu texto.


2) Introdução: é no primeiro parágrafo da redação que o autor inicia sua discussão. Ele contextualiza o assunto pautado e, em seguida, apresenta duas ideias envolvendo as questões.


3) Desenvolvimento: a partir deste momento, o autor começa a defender suas duas ideias, uma a uma. Isto acontece a partir do segundo parágrafo da redação, conforme a seguir: 2ª parágrafo – defesa da primeira ideia; 3º parágrafo – defesa da segunda ideia.


4) Conclusão: este é o momento em que o autor retoma a defesa de sua tese, relembra a proposta do tema e faz suas considerações finais, a título de conclusão.


TRINDADE, R. Linguagem midiática: o que difere o texto jornalístico de outras redações? Faculdade de Formação de Professores, Letras, Universidade Anhanguera. Rio de Janeiro, p. 25-28. 2015.


* Rodrigo Trindade é formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Também licenciado em Letras - Português, Inglês e Respectivas Literaturas. Atua como repórter, como assessor de comunicação organizacional e também como professor e consultor de língua portuguesa. Saiba mais: www.jornalistarodrigotrindade.com.br


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