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Opinião: Um ensino significativo e uma educação cidadã transformam qualquer um. Mas...

Atualizado: 20 de jan

Quem tem uma base familiar sólida, além de uma boa educação cidadã em casa, é um privilegiado. Mas quem não tem? Não encontrará a escola como um meio norteador e transformador? De quem é, afinal, o papel de educar?

O ensino informa. A educação transforma. Imagem: Canva / Montagem do Portal WTB News
O ensino informa. A educação transforma. Imagem: Canva / Montagem do Portal WTB News

Como todo ciclo natural da vida de uma criança, o meu começou no jardim de infância. Foi na Escola Municipal Professora Rosalina, em Niterói (RJ), que comecei a dar meus primeiros passos e a conectar-me com o mundo. Fui ensinado e também educado - senti isso! Lembro-me, entre tantas outras recomendações, a de lavar as mãos antes e após comer, a de escovar os dentes e, ainda, a de não fazer barulho na hora de tomar uma sopa.

Discutir culpabilidade é só um meio de querer plantar a responsabilidade em alguém e se livrar

Para minha sorte, porém, já havia escutado tudo isso em casa. E claro que o reforço valeu, pois nem todos os pais educam seus filhos como se deve (e não devemos culpar um ou outro, pois é uma questão relativa). Tinha pessoas ali precisando ouvir. Veja aí o papel fundamental da escola na educação das crianças. Eu tive a sorte de ter como mãe uma professora (ou uma professora como mãe?). O caminho tornou-se mais fácil. Mas e se eu não tivesse base familiar? E quem não tem um orientador em casa? Vou opinar sobre isso no último parágrafo.


A criança Rodrigo Trindade era tida, naquela época, como tímida, mas bastante inteligente. Só recebia boas notas. Sempre fui concentrado em sala de aula. Porém, o que nos desconcentrava era o recreio: a hora de comer era sagrada e barulhenta. Sinto saudades até hoje do macarrão com salsicha.

Professora Marlize, em memória. Foto: Acervo Pessoal
Professora Marlize, em memória. Foto: Acervo Pessoal

O tempo passou e os períodos do jardim ficaram para trás. Vinham novos desafios. Tudo era novidade, mas foi quando comecei a associar as “coisas” de forma mais madura. Cursei a alfabetização e a 1ª, 2ª e 3 ª séries na Escola Estadual Benjamin Constant, também em Niterói, onde minha mãe, professora Marlize Trindade (à esquerda, em memória), dava aulas. Eu, porém, não a tive como professora. Por questões de bom senso e por decisão dela mesma. Não daria certo. Talvez eu me acomodasse.

Minhas assombrações

Nestes anos de ensino primário, desenvolvi várias habilidades, inclusive as de ler e escrever. Lia bem e escrevia muito bem. Eram as estatísticas dos professores. Fazia as lições de casa, tirava boas notas em provas. Era o aluno “perfeitinho”. A culpa disso tudo era, em partes, da guardiã que eu tinha em casa, sempre em cima de mim.


Cursei a 4ª e a 5º séries numa escola particular, a Monteiro Lobato, em São Gonçalo (RJ). Estranhei muito. Pessoas diferentes e socioeconomicamente melhores, e ensino um pouco mais rigoroso, com professores nada tolerantes. Em contrapartida, fiz muitos amigos e tive um bom desempenho. A partir da 6ª série e até o término do ensino médio, estudei numa instituição de grande nome, a Escola Técnica Estadual Henrique Lage, novamente em Niterói. Foram anos árduos de estudo. Tudo muito difícil. Experimentei, inclusive, a repetência da 6ª série: um choque. Mais tarde, as coisas foram clareando. Consegui recuperar o tempo perdido.


Ali, além do ensino médio, formei-me como Técnico de Edificações. Até pensei em cursar Engenharia Civil. As aulas do ensino técnico eram muito interessantes, principalmente as de desenho e projetos de arquitetura. Mas a matemática, a física e a química me assustavam muito. Portanto, não segui a área. Fiz apenas um estágio para retirar o diploma. O que eu gostava mesmo era de ler, escrever e, mais tarde, informar. Ao término dos estudos do ensino médio, fui para a universidade onde estudei Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo.

Trabalhar para pagar os estudos

Vim de uma família bastante humilde e, como muitos exemplos que conhecemos, também batalhei para cursar o nível superior numa universidade privada. Era um grande presente. Como todo universitário, vivia enrolado com trabalhos e seminários. Foram quatro anos e meio de estudo, perrengues, mas também de muito prazer. É um campo gostoso de estudar. Fiz muitos estágios, trabalhei em várias empresas do setor de comunicação. Anos depois, cursei uma segunda graduação (Letras).


Hoje, ao analisar toda a minha trajetória como estudante, interligando aos conceitos de aprendizagem significativa para minha vida, posso afirmar que, em grande parte desta caminhada, recebi não apenas ensino, mas também educação. Variou, de cada professor, de cada instituição. Convivi com variados tipos de pessoas e caráter; trouxe comigo o que foi edificante. Deixei para trás zombarias, negatividades e gente nem um pouco interessada no bem-estar de seus semelhantes.

Sinto-me um cidadão socialmente útil e humanamente sensível às pessoas e aos contextos

Respondendo e opinando ao debate que se tem atualmente, sobre o papel da escola (é apenas de ensinar ou ensinar e educar?), posso ser testemunha que em muitos momentos recebi ambas orientações e isso ajudou a tornar-me um cidadão socialmente útil e humanamente sensível às pessoas e aos contextos.


Por outro lado, também lembro-me claramente de alguns exemplos de professores e instituições meramente conteudistas: o ensino não fazia sentido. Não via aplicação em minha vida pessoal. Em contrapartida, meu cachê de ensino e aprendizagem, por parte de professores ilustres e verdadeiros transformadores sociais, fez-me sentir muito mais prazer pelo estudo, pela leitura e pela busca de novos conhecimentos. E sobretudo, pelas ciências sociais e humanas.

Bom para quem? Só para quem tem dinheiro e família?

Mas, retomando o que contei lá em cima e traçando um paralelo com a realidade brasileira e o desastre que é a educação básica em nosso país: quem tem uma base familiar sólida, além de uma boa educação cidadã em casa, é um privilegiado e tem grandes chances - é óbvio. Mas quem não tem? Não encontrará a escola como um meio norteador e transformador? De quem é, afinal, o papel de educar?


Independente das respostas que você dará, lembre-se que ser professor é, antes de tudo, um ato de amor e coragem. O que pode ser dito adiante é que, para muitos alunos que vivem no submundo da pobreza e já estão acostumados ao círculo vicioso da ignorância de seus pais, muitas vezes passado de geração a geração, o papel do professor é muito mais do que um provedor de ensino de português, matemática, ciências e etc. Estes muitas vezes veem a escola, os professores e os colegas como um refúgio da situação infernal que vivem em seus lares.


Por isso, além de ensinar, educar é necessário, ou dentro de casa ou fora dela. É claro que, na prática, tudo é muito difícil, dada as situações perigosas vividas por educadores, de xingamentos a agressões físicas, por exemplo. Mas isso é outra história e encaixa-se perfeitamente nas consequências drásticas da má educação em casa. É difícil, porém, discutir culpabilidades se a escola o tempo todo se exime da responsabilidade, no processo de formar cidadãos; e, em muitas vezes, se reafirma apenas como uma instituição conteudista.


Sabe-se, porém, que apenas o currículo tradicional oferecido não forma cidadãos conscientes. Fosse assim, o Brasil, a política e a sociedade estariam em boas mãos. Viveríamos numa Dinamarca, com os "sujeitos letrados" que elegemos para Brasília. "Só que não..."


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* Rodrigo Trindade é formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Também licenciado em Letras - Português, Inglês e Respectivas Literaturas. Atua como repórter, como assessor de comunicação organizacional e também como professor e consultor de língua portuguesa.


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