Lembro-me que, ainda na infância, já recebia incentivo e orientação por avó e mãe acerca da necessidade de ocupar um papel social útil, e isso inclui o âmbito profissional. Elas me criaram e delas recebi, também, aulas de empatia e respeito, visto que nem todas as crianças tinham, por si, responsáveis tão visionários, com níveis de educação e orientação fundamentais à formação de um futuro adulto.
Minhas matriarcas se foram quando eu ainda era jovem. Dada toda essa realidade de outrora, de pobre, porém honrado, hoje, aos 43 anos, perpetua-se, com todo vigor, esse fio condutor empático que me leva, por exemplo, a jamais ser um homem meritocrata; a ter sensibilidade em, antes de atribuir julgamentos, verificar os contextos, mesmo que tais pessoas sejam tralhas execráveis.
Aonde quero chegar? Entenderás!
Alertar sobre a importância de uma vida ativa e produtiva parece ter perdido o prestígio, ficando de fora do quite de boas condutas que todo mundo deveria receber dentro de casa. Junto a esse naufrágio, está ensinar que o mundo não é o da Alice e o circuito de apenas encher a pança, ostentar bobagens, fazer dancinha na internet e dormir não dará passaporte a uma vida adulta madura e saudável. Ao contrário: é esdrúxulo e merece o crachá da vergonha.
Uma geração que qualquer coisa 'cai a mão'?
Sou de uma outra geração, a não "tiktokizada" (tive que usar esse neologismo). Nesta antiga, ainda que tenha havido privilégios, uma contrapartida era fundamental: estudar e lavar uma louça ou roupa, ou varrer a casa e muito mais. Nas rodas de conversa, ainda se tinha relatos sobre sonhos futuros de carreira e de vida.
Nas atuais, entretanto, algo paradoxalmente acontece: a geração que mais acessa informações tem se mostrado a mais bestial e idiotizada. Para agravar, o que se lê corriqueiramente nas redes sociais é terrível: falas grotescas e meritocratas de quem nunca construiu nada na vida. Gritos de ódio e terror gratuitos, como se o padrão socioeconômico ostentado por essas pessoas fosse o de toda população.
Dentre os sonhos de muita gente assim, está a ganância em produzir dinheiro fácil e de forma rápida, sem sair de dentro de casa (mesmo que tenha que sujar a honra em troca de pix). Dando um zoom para estudar esses seres de perto, o que se vê é que tais pessoas ainda são sustentadas por parentes ou por outrem.
Adultos e jovens meritocratas precisam saber que herança não é atestado de honra ao mérito
Testemunha-se, igualmente, o que eu chamaria de processo de formação de novos mocorongas almofadinhas: incapazes de lavar a própria cueca suja, estes, eternamente, viverão na barra da saia da mamãe ou na botina do papai.
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