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  • Foto do escritorRodrigo Trindade

Carnaval 2019|Grupo Especial: Vila, Mangueira e Mocidade arrebatam 2ª noite de desfiles

Atualizado: 6 de mar. de 2019

São Clemente também faz desfile bonito e alfineta o lado 'obscuro' do Carnaval.


Por Rodrigo Trindade e Tania de Paula. Da Marquês de Sapucaí, Rio de Janeiro.

*Fotos gentilmente cedidas pela Riotur.

Desfile da Vila Isabel. Foto: Fernando Grilli | Riotur
Desfile da Vila Isabel. Foto: Fernando Grilli | Riotur

A segunda-feira de Carnaval (04/03), último dia de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, foi de destaque para três grandes escolas de samba: Unidos de Vila Isabel, Mangueira e Mocidade deram um show e foram as divas da noite. No que depender da visão da maioria dos espectadores nestes dois dias de apresentação da Elite do Samba, estas três brigarão pelo título com Unidos da Tijuca, Viradouro e Salgueiro.


Fato é que não existe apenas uma favorita e na Quarta-Feira de Cinzas tudo pode acontecer. Vai ser uma disputa apertada, décimo a décimo, e outras não cotadas podem surpreender. Mas parece que o caminho está quase traçado e estas seis devem ser as felizardas a desfilar no sábado de campeãs.


São Clemente alfinetou o lado "obscuro" do samba e também pode sonhar: fez um ótimo desfile. Portela fez apresentação plasticamente simples e conceitualmente emocionante, mas sem pinta de campeã. Tudo vai depender da visão dos julgadores. Confira uma síntese sobre a última noite:

1- São Clemente (Botafogo, Rio)

A São Clemente abriu o segundo dia dos desfiles do Grupo Especial de forma incrível: criticou o próprio Carnaval, com base na releitura do enredo "E o samba sambou", de 1990, com muitos efeitos especiais, metáforas e alfinetadas bastantes fortes em todos os órgãos e pessoas que administram e participam dos desfiles na Avenida. A sátira, assinada pelo carnavalesco Jorge Silveira, teve início na comissão de frente, onde uma grande mesa virava e componentes faziam uma espécie de pirueta, pendurados por cabos sob o elemento alegórico, cada um representando uma escola de samba. Era uma alusão ao não rebaixamento de duas escolas ano passado - atitude tomada pela Liesa (responsável pelos desfiles) e que, para o público, pareceu tentar "proteger" a Grande Rio de ser rebaixada por perder muitos décimos em uma alegoria que não entrou. Os carros, bastantes "high-techs" e cheios de efeitos e iluminação, foram mais um ponto alto: houve mais críticas a camarotes "sem noção" e que nada têm de samba, a credenciais supostamente distribuídas a quem não se deve; e ainda sobre a mercantilização dos desfiles, que os tornam cada vez menos espontâneos. Foi uma bela apresentação e, embora não tenha pinta de campeã, em comparação à Tijuca, Viradouro, Salgueiro, Vila Isabel, Mangueira e Mocidade, a São Clemente pode sonhar em voltar nos desfiles das campeãs, pela qualidade plástica e pelo pertinente desfile. - Clique e veja mais fotos do desfile da São Clemente

2- Vila Isabel (Vila Isabel, Rio)

A segunda agremiação a pisar na Sapucaí foi a Vila Isabel. Pisou forte, luxuosa e talvez com o melhor conjunto alegórico de 2019. O enredo "Em nome do pai, do filho e dos santos, a Vila canta a cidade de Pedro" homenageou a cidade de Petrópolis (Região Serrana do Rio), promovendo o encontro da Vila Isabel escola de samba com a Isabel Princesa, sua memória, e a memória da Família Real. O carnavalesco Edson Pereira, um dos mais bem conceituados artistas deste segmento, abusou de cores, bom gosto e efeitos especiais nos carros alegóricos e fantasias. O abre-alas, de 60m de comprimento e dividido em três partes, mostrou desde uma carruagem monárquica à uma catedral, abordando a forte religiosidade imperial - foi um momento sensacional. A azul e branca teve muitos outros pontos altos: boa evolução, bateria afinada e samba funcional. No final, houve uma pequena correria para terminar no tempo, mas, ainda assim, a Vila deve perder um décimo por ter ultrapassado em um minuto o limite máximo regulamentado de 1h15. A perda deste um décimo, porém, pode ser "ofuscado" e nem sentido, em meio a um desfile "faraônico" e de qualidade. Deve brigar pelo título, junto com Tijuca, Viradouro, Salgueiro, Mangueira e Mocidade. - Clique e veja mais fotos do desfile da Vila Isabel

3- Portela (Madureira, Rio)

"Na Madureira Moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma sabiá": foi com esse título que a Portela, terceira da noite, homenageou a cantora Clara Nunes, pelas mãos da carnavalesca Rosa Magalhães. Com um desfile plasticamente simples e com o acabamento primoroso da artista, um dos pontos mais altos da apresentação foi a parte conceitual do enredo, que emocionou o público e principalmente a classe artística e torcedores. Glória Pires, por exemplo, representou a homenageada no terceiro carro, que representava a religiosidade mineira, fazendo alusão à terra natal de Clara: visivelmente feliz e emocionada, a atriz da "TV Globo" estava com uma fantasia dourada, acompanhando a mesma cor da alegoria. Outro ponto que tocou a todos foi o último carro: trouxe a velha-guarda azul e branca e um grande "altar do samba", com uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida no fundo e vários artistas e cantores ao redor. Em volta, várias velas ajudavam na representatividade do altar. Fechou o desfile no tempo certo e com a identidade portelense que todos nós conhecemos.

4- União da Ilha (Cacuia, Ilha do Governador, Rio)

Com o tema "A peleja poética entre Rachel e Alencar no Avarandado do Céu", a União da Ilha foi a quarta a desfilar: quis bordar com palavras, versos e memórias a celebração do encontro entre dois expoentes da literatura brasileira, Rachel de Queiroz e José de Alencar, pelas mãos do carnavalesco Severo Luzardo. A apresentação foi bastante colorida, mantendo a tradição irreverente, lúdica e alegre da tricolor do bairro da Cacuia. Um dos pontos altos foi a comissão de frente, que mostrou a religiosidade cearense e um dos santos mais amados daquela região: Padre Cícero, que "apareceu" voando na Avenida para "fazer milagres e renovar a fé das pessoas". O conjunto alegórico, também em multicores, foi outro destaque, mostrando muito trabalho manual, através de esculturas e elementos ligados à cultura nordestina. A parte "high-tech" da escola foi representada no último carro, que homenageou as mulheres bordadeiras e rendeiras: veio todo em prata e com telões em led e iluminação especial. O samba, embora não tenha sido considerado um dos melhores da safra (segundo críticos de outros portais do segmento), funcionou muito bem no contexto da Avenida, com a voz do cantor Ito Melodia. Pode não ter sido um desfile campeão, em comparação a outras escolas mais fortes e com mais dinheiro, mas, ainda assim, foi sensacional. - Clique e veja mais fotos do desfile da União da Ilha

5- Paraíso do Tuiuti (São Cristóvão, Rio)

Com enredo "O Salvador da Pátria", assinado pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, a Paraíso do Tuiuti falou da história do “Bode Ioiô”, que se transformou em personagem da cultura sertaneja ao supostamente ter sido eleito vereador em 1922, num suposto ato de protesto em Fortaleza (não há documentação que comprove tal história). O tema foi explorado de uma forma humorada e um dos pontos altos foram as cores, tanto de alegorias quanto em fantasias. O samba, considerado bastante mediano, funcionou por conta de sua melodia feliz e "para cima". A bateria também fez bonito e mostrou entrosamento e harmonia com o carro de som. No finalzinho, a escola deu uma pequena acelerada para fechar o desfile no tempo regulamentado, que é de 1h15. O último carro passou com duas partes quebradas do lado direito e, segundo informações apuradas pelo Portal WTB News, teria havido alguma avaria ainda na concentração. Tomara que os julgadores não tenham percebido. Ano passado, a Tuiuti conquistou o vice-campeonato com tema crítico "Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?", quando abordou as desigualdades sociais e o lado obscuro da política: foi espetacular. Embora tenha feito um desfile bonito e com metáfora bastante importante para a sociedade, também criticando a má política, o desfile deste ano não teve pinta de campeão. Plasticamente, também ficou abaixo das escolas que possivelmente voltarão no sábado de campeãs. Quem dá, porém, a última palavra, é a comissão julgadora. Vamos aguardar.

6- Mangueira (Morro da Mangueira, São Cristóvão, Rio)

Sexta a desfilar, a Estação Primeira de Mangueira contou o enredo "História pra ninar gente grande", desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira e que confrontou a história "oficial" do Brasil, contada nos livros, e seus personagens políticos considerados "heróis". É que para a Mangueira e para todos nós brasileiros esclarecidos, a real versão dos fatos é outra, longe dos mitos criados. Com um dos dois mais belos sambas de 2019 (junto com Tijuca), a verde e rosa deu um show na Avenida. Com letra crítica e tocante, refrões fortes e intrigantes, falando de descobrimento, independência, abolição e dizendo um não ao preconceito, a música foi uma das mais cantadas pelo público no Sambódromo, nas arquibancadas populares e não populares: houve grito de campeã, sobretudo nos últimos setores. Outro ponto alto foi a bateria de mestre Wesley e suas bossas, uma delas apoiada em um "timbau". A plástica também surpreendeu: alegorias gigantes e com imagens polêmicas e que chocaram os espectadores devem ganhar a pontuação máxima. O último carro, por exemplo, trouxe vários livros e, em cada grupo, encenação do que poderia ser a versão real da história, contrariando o que é contado nos livros. Fantasias coloridas e pertinentes também devem dar à Mangueira um bom resultado. O desfile terminou com uma bandeira gigante do Brasil nos tons verde e rosa, com a frase "Negros, índios e favelados" substituindo o tão famoso e utópico "Ordem e Progresso". Junto à bandeira, uma multidão sendo representada, entre negros, gays e outros personagens da vida real brasileira, que o Brasil pouco conta ou até mesmo tenta esconder. Mangueira atingiu perfeição entre concepção e realização: plasticamente sensacional e conceitualmente impactante e emocionante. Foi a diva da noite ao lado da Vila Isabel e Mocidade. Vai brigar pelo título. - Clique e veja mais fotos do desfile da Mangueira

7- Mocidade (Padre Miguel, Rio)

A Mocidade Independente de Padre Miguel fechou os desfiles das escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro com maestria. Apoiada no enredo "Eu sou o tempo. Tempo é vida", de autoria e desenvolvimento do carnavalesco Alexandre Louzada, a verde e branca abusou do uso de efeitos especiais e tecnológicos para abordar a relação do homem com tempo, revelando suas histórias, memórias e a poesia do tempo da vida. Logo na comissão de frente, uma gigante máquina do tempo mostrava várias invenções do homem, desde o carro até mesmo uma locomotiva: era o passado e o presente sendo vivido (ou revivido). O abre-alas, gigantesco, representou "Cronos", "senhor do tempo"; e também era uma grande máquina do tempo, com várias engrenagens e um pégaso articulado, símbolo da imortalidade; à frente da alegoria, veio a cantora e sambista Elza Soares como destaque, sob uma estrela iluminada, símbolo maior da escola. Do ponto de vista do conjunto alegórico, vai ser difícil a escola não ganhar nota 10: todos os carros apresentavam movimento, efeitos e cores fortes e cítricas, além de acabamento impecável. Algumas alas também chamaram a atenção, dando um visual bastante interessante. O samba, cantado por Wander Pires, foi outro ponto alto, o que embalou componentes, torcedores e o público, em um raiar do dia bonito e sem chuva. Os meses que antecederam o Carnaval não foram bons para a Mocidade. Era recorrente notícias de que a escola estaria com situação financeira bastante ruim e, inclusive, com seu barracão de alegorias "parado". Mas o que foi visto na madrugada desta terça-feira foi um desfile rico e luxuoso, sem falhas de acabamento. É mais uma escola que certamente poderá brigar pelo título. - Clique e veja mais fotos do desfile da Mocidade

 

*Referência para informações técnicas do desfile: Roteiro dos Desfiles

**Fotos gentilmente cedidas pela Riotur


(e entenda o enredo setor a setor, ala a ala das escolas que desfilaram nesta segunda)

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A TV Globo disponibiliza os desfiles na íntegra e de graça, na plataforma GloboPlay:


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